Rússia foca em celebridades de redes sociais nos EUA para influenciar eleição presidencial
Estratégia reforça divisões entre os norte-americanos e questionam eficácia do governo na segurança global. Caso está sendo investigado pelo Departamento de Justiça. Celular com aplicativos de redes sociais
PA Media
A Rússia está cada vez mais utilizando celebridades das redes sociais dos Estados Unidos para secretamente influenciar eleitores antes da eleição presidencial de 2024, de acordo com autoridades norte-americanas.
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“O que estamos vendo são eles apostarem em norte-americanos que, consciente ou inconscientemente, passaram a promover e a dar credibilidade a narrativas que servem aos interesses desses atores estrangeiros”, disse um funcionário sênior do setor de Inteligência.
“Esses países estrangeiros normalmente acreditam que os norte-americanos têm maior probabilidade de acreditar em pontos de vista vindos de outros norte-americanos.”
A estratégia foi apontada por agências de segurança dos EUA como uma das táticas preferidas da Rússia neste ciclo eleitoral.
De maneira geral, essa estratégia busca irritar cidadãos dos Estados Unidos, reforçando as divisões dentro da sociedade norte-americana e enfatizando pontos de discussão partidários.
Ao mesmo tempo, o conteúdo usado questiona a eficácia do governo dos EUA e o papel dele na segurança global, afirmam os especialistas.
“Estamos focando nessas táticas porque o público norte-americano deve saber que o conteúdo a que eles têm acesso online, especialmente em redes sociais, pode ser propaganda estrangeira. Mesmo se, aparentemente, tudo aparece em vozes de compatriotas”, disse outro funcionário da Inteligência.
“Resumindo, atores estrangeiros estão ficando melhores em esconder seus interesses e em usar norte-americanos.”
Processo criminal
Na quarta-feira, o Departamento de Justiça dos Estados Unidos revelou a abertura de um processo criminal contra dois ex-funcionários da agência Russia Today, ou RT.
A acusação aponta um suposto esquema em que os russos teriam enviado cerca de US$ 10 milhões de dólares para dois proprietários de empresa de comunicação social.
Os empresários, então, teriam pagado influenciadores conservadores norte-americanos para criarem vídeos e publicações nas redes sociais.
Em períodos diferentes, comentaristas teriam compartilhado conteúdo contra a Ucrânia, algo que se alinhava com o ponto de vista russo.
O indiciamento não dá nome ao veículo de imprensa acusado, mas a Reuters descobriu que se trata de uma empresa baseada no Tennessee chamada Tenet Media, que se descreve como o lar das “vozes sem medo”. A Tenet também não respondeu a pedidos de comentário.
A empresa teria contratado diversas celebridades proeminentes nas redes sociais, incluindo o podcaster Tim Pool e o ex-jornalista Benny Johnson, entre outros.
O indiciamento afirma que os empresários sabiam que estavam recebendo os recursos de agentes russos, mas os influenciadores pareciam não conhecer esse acordo.
A Tenet controla um canal no Youtube e outros perfis nas redes sociais, nos quais publica vídeos e áudios de parceiros. Segundo documentos no processo, os fundadores da Tenet fizeram um influenciador não-identificado a fazer falsas alegações de que a Ucrânia teria sido responsável pelo ataque terrorista em Moscou em abril, e não o Estado Islâmico.
Pool e Johnson divulgaram uma nota afirmando saber do indiciamento contra a Tenet. Pool disse que “eu, assim como os outros comentaristas fomos enganados e somos as vítimas”.
Johnson escreveu algo similar, dizendo que ficou “incomodado com as alegações no indiciamento que deixa claro que eu e os outros influenciadores somos as vítimas desse suposto esquema”.
Estratégia
Especialistas afirmam que a estratégia se encaixa em uma tendência histórica.
“Pagar jornalistas ou financiar veículos de imprensa é um processo antigo para conseguir lavar pontos de vistas que eram propaganda, algo feito desde a Guerra Fria. Estamos vendo a atualização disso para o mundo digital”, disse Renee DiResta, analista de desinformação digital.
“É interessante ver que eles estão usando influencers em vez de jornalistas — indica quais são as vozes realmente influentes.”