Vencedor do Prêmio Jabuti, escritor anastaciano compartilha planos para 2024: ‘Viver do jeito que vivo, com independência e liberdade’
Autor de mais de 15 livros, Fabrício Corsaletti começou a escrever na adolescência e, aos 45 anos, conquistou o reconhecimento mais consagrado da literatura brasileira. Trecho da obra “Engenheiro Fantasma” (Companhia das Letras), lançada em 2022 por Fabrício Corsaletti
Reprodução/Companhia das Letras
O trecho, do primeiro soneto da obra “Engenheiro Fantasma” (Companhia das Letras), do escritor Fabrício Corsaletti, nascido em Santo Anastácio (SP), aterrissa em Buenos Aires, onde os versos dão o tom da narrativa protagonizada por Bob Dylan. Ganhadora da 65ª edição do Prêmio Jabuti, nas categorias Poesia e Livro do ano, a coletânea, lançada em 2022, nasceu de um sonho do artista, e não no sentido metafórico.
“Tomei o café da manhã angustiado, sem saber o que fazer — eu sabia que devia fazer alguma coisa. Fui para o computador e arrisquei um soneto. No fim do dia eu tinha escrito sete, ao todo. No dia seguinte, mais nove. Entre 8 e 17 de setembro, escrevi cinquenta e seis sonetos. Significa que outros cento e quarenta e quatro ainda estão perdidos por aí”, relatou o escritor no prólogo.
Mas não foram apenas os sonetos da obra que marcaram a trajetória do intelectual. No livro da vida, Corsaletti empresta os versos de “Soneto da Fidelidade”, eternizado por Vinícius de Moraes, em: “que seja infinito enquanto dure”. Para ele, a paixão pela arte, literatura e escrita, durou. Um amor cultivado desde muito cedo.
Fabrício Corsaletti, de Santo Anastácio (SP), foi vencedor do Prêmio Jabuti 2023, nas categorias Poesia e Livro do ano
Câmara Brasileira do Livro
Afinco real ✍
Autor de mais de 15 livros, entre os gêneros de literatura infantil, poesia e ficção, Fabrício Crepaldi Corsaletti é escritor, poeta e professor. Dos 45 anos vividos, dedicou boa parte deles à arte de colocar em palavras suas vivências e impressões sobre o mundo, ora imaginário, mas sempre eternizado com afinco real.
Natural de Santo Anastácio, o apreço pelas artes surgiu ainda na adolescência. Inspirado pela Música Popular Brasileira (MPB) de Vinícius de Moraes, Chico Buarque e Caetano Veloso, começou a escrever aos 15 anos, folheando as apostilas do colégio e conversando com sua professora de literatura, Cidinha Campos, recordada carinhosamente pelo agora morador da capital paulista.
Poeta começou a escrever com 15 anos e lançou seu primeiro livro oito anos depois
Acervo pessoal
Com 23 anos, Fabrício publicou seu primeiro livro. A edição caseira, custeada pelos pais, foi intitulada “Movediço”. A partir da segunda obra, “O Sobrevivente”, lançada com a ajuda da família e dos amigos, o professor viu um horizonte de possibilidades se apresentar diante dos seus olhos. Mesmo diante do ‘novo’, nunca deixou de ser apoiado pelas pessoas que, um dia, testemunharam o nascimento do escritor interiorano.
“Sempre contei com muitas pessoas que gostavam do que eu fazia e me apoiaram. Eu tive muito apoio, desde o começo, de pessoas entusiasmadas com o meu trabalho, que me incentivaram a ir para frente, mas eu estava muito decidido, desde o começo, de que era isso o que eu queria fazer, então, não teve hesitação. Desde os 15 anos, era isso o que eu queria fazer, escrever, e é isso o que eu faço”, observou ao g1.
‘Autoexilado’ 🌎
Ao longo de 56 sonetos, distribuídos em 128 páginas, Fabrício Crepaldi “veste a máscara de Bob Dylan e narra uma temporada de exílio voluntário que o genial letrista norte-americano teria supostamente vivido em Buenos Aires em algum período não-especificado deste século”.
Lançado pela Companhia das Letras em março de 2022, o livro, intitulado “Engenheiro Fantasma”, faz uma imersão na capital portenha numa mistura entre real e imaginário, tudo descrito pela ótica do letrista norte-americano, que lá vive anonimamente.
“Os sonetos são o Bob Dylan andando por Buenos Aires. Uma Buenos Aires que é meio real, meio inventada… Tem muita coisa do livro que existe em Buenos Aires, mas outras não, como, por exemplo, bares que eu inventei. Então, é a vida do Bob Dylan imaginário em uma Buenos Aires imaginária também”, atestou o autor.
Obra se passa em Buenos Aires e traz 56 sonetos
Acervo pessoal
A astúcia do escritor anastaciano em dar vida ao que, em determinada noite, não passou de um sonho, rendeu ao artista a conquista do Prêmio Jabuti 2023, um dos mais tradicionais da literatura brasileira, nas categorias Poesia e Livro do ano.
“Eu fiquei muito feliz, porque é um reconhecimento do meu livro, do meu trabalho, como um todo, o que é sempre legal, é muito gratificante. Eu já publiquei mais de vinte livros e os concorrentes eram muito bons. Eu sou muito fã do Paulo Henriques Brito, da Cláudia Roquete Pinto”, ressaltou ao g1 Corsaletti.
E completou: “Ainda tem uma expectativa de divulgação do livro, de mais pessoas ficarem sabendo do meu livro, irem atrás para ler o livro que ganhou o Jabuti, tem a viagem para Frankfurt, que faz parte do prêmio, e R$ 70 mil, o que sempre é bom. Então, a sensação é essa: é de gratificação pelo reconhecimento e de uma certa expectativa de que o livro circule mais entre os leitores”.
Trecho da obra “Engenheiro Fantasma” (Companhia das Letras), lançada em 2022 por Fabrício Corsaletti
Reprodução/Companhia das Letras
‘Futuro simples’ 🪐
Para o escritor, o ano de 2023 foi de conquistas que vão além do Prêmio Jabuti. Quanto aos planos para o futuro, o poeta adianta: “são muito simples”.
“É continuar fazendo o que eu faço, o que não é nada simples, o que dá muito trabalho. Quero continuar escrevendo e vivendo do jeito que eu vivo, com independência e liberdade. Fazer o que eu quero fazer e não o que os outros querem que eu faça. Se eu conseguir fazer isso, já está bom”, concluiu ao g1.
Fabrício Corsaletti na cerimônia do Prêmio Jabuti 2023
Câmara Brasileira do Livro
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