Samuel Rosa reprocessa levadas e tons do cancioneiro do Skank em álbum solo
Disco é bom, mas não representa um novo começo de era na obra do artista, autor das dez músicas. Capa do álbum ‘Rosa’, de Samuel Rosa
Arte de Stephan Doitschinoff
Resenha de álbum
Título: Rosa
Artista: Samuel Rosa
Edição: Sam Music
Cotação: ★ ★ ★ 1/2
♪ Rosa, recém-lançado primeiro álbum solo de Samuel Rosa, mantém o artista vinculado à sonoridade do Skank, banda mineira que revelou em 1991 esse cantor, compositor e guitarrista mineiro nascido em Belo Horizonte (MG) em 15 de julho de 1966. E essa sentença não deve ser interpretada como demérito do disco posto em rotação na noite de 27 de junho.
A duas semanas de festejar 58 anos, Samuel Rosa permanece em forma como compositor e apresenta bom álbum solo. A questão é que Samuel reprocessa em Rosa levadas e tons do cancioneiro do Skank, o que impede, , não uma total ruptura com o glorioso passado do artista, pois isso seria impossível e até indesejável, mas um novo começo de era.
Impossível ouvir Não tenha dó (Samuel Rosa) – uma das joias de maior quilate do repertório inteiramente inédito e autoral de Rosa – sem que o arranjo remeta a um disco clássico do Skank. Da mesma fora, Me dê você (Samuel Rosa e Carlos Rennó) reverbera a pegada do segundo álbum do grupo, Calango (1994), disco que há 30 anos confirmou o Skank como uma das grandes bandas dos anos 1990.
Sem falar que a faixa Segue o jogo (Samuel Rosa) já tinha evocado a levada da Balada do amor inabalável (Samuel Rosa e Fausto Fawcett, 2000) quando foi apresentada em single editado em 7 de junho.
No que diz respeito às dez canções em si, essa semelhança era até certo ponto inevitável pelo fato de todo o cancioneiro do Skank ser sobretudo fruto da inspiração de Samuel Rosa, por mais relevantes que tenham sido – e foram – as contribuições de parceiros como Nando Reis e o letrista Chico Amaral, duas ausências sentidas em Rosa.
Talvez a rapidez com que o álbum tenha sido feito – com o repertório sendo composto em janeiro, em induzido processo de criação, e gravado logo na sequência em fevereiro – tenha potencializado tais evocações. Com mais tempo, talvez a banda tivesse sido instigada a buscar outros caminhos e levadas.
A aridez que conduz Ciranda seca (Dinorah) ao sertão nordestino é trilho inusitado que valoriza a música composta por Samuel com Rodrigo Leão para a trilha sonora da aclamada série Cangaço novo. A pegada soul de Tudo agora (Samuel Rosa e Rodrigo Leão) – originalmente um reggae – é outro diferencial de Rosa. Talvez tenha faltado, no geral, o olhar externo de um produtor musical dissociado da história do Skank.
Conjecturas à parte, o fato é que a ótima banda do álbum é formada por Alexandre Mourão (contrabaixo), Doca Rolim (violão e guitarra), Marcelo Dai (bateria e percussão), Pedro Aristides (trombone), Pedro Kremer (teclados), Pedro Mota (trompete) e Vinícius Augusto (saxofone), além de Daniel Guedes, que toca percussão na já citada Me dê você, em Bela amiga (Samuel Rosa e Carlos Rennó) – canção com menor poder de sedução no conjunto da obra – e em Flores da rua.
Parceria de Samuel com João Ferreira, Flores da rua tem refrão aliciante que faz a música crescer no palco – a ponto de Flores da rua ter se imposto como o petardo mais certeiro do roteiro do show apresentado por Samuel para convidados no espaço paulistano Rockambole na quarta-feira passada, 26 de junho.
No show, assim como no disco, Aquela hora (Samuel Rosa e Rodrigo Leão) flagra o artista no universo do indie-pop-rock enquanto a canção Rio dentro do mar (Samuel Rosa) – única música composta antes do processo de criação do repertório do disco Rosa – reitera a vocação do compositor para gerar belas baladas. Não por acaso, o álbum termina com balada apaixonada, Palma da mão (Samuel Rosa).
Enfim solo, sem o nome do Skank, Samuel apresenta no álbum Rosa alguns trunfos que, se bem usados, poderão manter o vasto público da banda na palma da mão do cantor.
Samuel Rosa apresenta dez músicas inéditas e autorais no álbum ‘Rosa’
Lorena Dini / Divulgação