Quinho do Salgueiro se eterniza na avenida como a voz arrepiante de carnavais campeões
Ao morrer aos 66 anos, cantor fica associado à escola carioca vermelha e branca, embora tenha passado por várias agremiações do Rio de Janeiro e São Paulo. ♪ OBITUÁRIO – “Arrepia, Salgueiro!”. Mais do que um bordão, essa frase imperativa soava como grito de guerra na voz potente de Melquisedeque Marins Marques (6 de maio de 1957 – 3 de janeiro de 2024), o intérprete carioca de samba-enredo imortalizado como Quinho do Salgueiro no panteão do Carnaval carioca.
Na noite de ontem, 3, Quinho chegou ao fim da grande avenida chamada vida. Terminou o desfile antes do tempo regulamentar, aos 66 anos, vítima de complicações decorrentes de câncer de próstata. Enlutado, o mundo do samba chora a morte do artista nas quadras e nas redes sociais, especialmente o Salgueiro.
Quinho pode ser incluído na categoria dos grandes puxadores, termo designado para identificar os cantores que, no desfile das escolas de samba, amplificam tanto o samba-enredo das agremiações como a alegria e animação dos componentes e do público das arquibancadas.
Nome de inspiração bíblica dado pelo pai, seguidor da religião Testemunhas de Jeová, Melquisedeque logo virou Quinho. Já o sobrenome, na certidão expedida pela folia, virou “do Salgueiro” porque Quinho foi mesmo do Salgueiro.
Sim, Quinho foi sobretudo da escola fundada em 1953 no Morro do Salgueiro, na zona norte da cidade do Rio de Janeiro (RJ), embora também tenha passado pela União da Ilha do Governador (na qual pôs os pés na profissão em 1985, se tornando o puxador oficial da escola no Carnaval de 1988) e pela Acadêmicos do Grande Rio, entre outras agremiações cariocas, além de ter puxado sambas de escolas do Carnaval de São Paulo como Rosas de Ouro, Unidos do Peruche e Unidos de Vila Maria – sem falar em meteórica passagem pela folia de Porto Alegre (RS), onde Quinho vestiu a camisa da escola Vila do IAPI em 2005.
É que, em nenhuma dessas escolas, Quinho arrepiou e protagonizou momentos antológicos como no Salgueiro. Entre idas e vindas, foram quatro passagens pela escola vermelha-e-branca, de 1991 a 1993, de 1995 a 1999, de 2003 a 2014 e de 2019 até o momento em Quinho virou constelação no céu do Salgueiro.
Aqui na Terra a estrela de Quinho brilhou especialmente em 1993, ano em que o Salgueiro foi campeão como o samba-enredo Peguei um ita no Norte (Demá Chagas, Arizão, Bala, Guaracy e Celso Trindade).
Rei na avenida, Quinho potencializou com o canto enérgico o efeito explosivo do refrão desse samba conhecido justamente como Explode coração. Com a voz de Quinho, o Salgueiro arrepiou os foliões, contagiou a cidade e conquistou o título naquele ano de 1993.
Passados 16 anos, Quinho viveu outro momento de glória no Salgueiro quando, em 2009, puxou o samba Tambor (Moisés Santiago, Paulo Shell, Leandro Costa e Tatiana Leite) no Carnaval em que o Salgueiro também se tornou campeão.
Independente da contagem de títulos, Quinho do Salgueiro personificou não somente o espírito salgueirense – como a escola ressaltou em post em que enalteceu os feitos do artista – mas o espírito do próprio Carnaval, alegre, animado, por vezes voluntarioso, mas sempre contagiante, pronto para fazer os corações foliões explodirem na maior felicidade. Quinho do Salgueiro arrepiou!