Pabllo Vittar se mantém em zona confortável ao seguir a rota norte-nordeste do álbum ‘Batidão tropical 2’
Artista lança disco com foco na música inédita ‘Idiota’, mas a munição mais certeira vem do repertório antigo de bandas como Magníficos e Forró do Muído. Capa do álbum ‘Batidão tropical vol. 2’, de Pabllo Vittar
Gabriel Renne com arte de Doug Reder
Resenha de álbum
Título: Batidão tropical vol. 2
Artista: Pabllo Vittar
Edição: Sony Music
Cotação: ★ ★ ★ 1/2
♪ Basta ouvir Me usa, sexta das 14 músicas do álbum Batidão tropical vol. 2, para captar o espírito do disco lançado por Pabllo Vittar na noite desta quarta-feira, 9 de abril. Até pela locução inserida no meio da aliciante faixa, a impressão que se tem é a de ouvir a gravação de uma banda de forró eletrônico como tantas surgidas ao longo da década de 1990 e dos anos 2000.
Tal impressão é verdadeira. Composição de José Inácio da Silva (o Jotinha) em parceria com Gino Liver, Me usa foi lançada em 1997 pela banda paraibana Magníficos e, desde então, se manteve como um dos grandes sucessos do grupo.
A melodia fácil de Me usa tem o efeito potencializado pelo refrão pegajoso. Tudo isso é mantido na gravação de Pabllo Vittar, formatada pelo time da Brabo Music sob a batuta do DJ e produtor musical Rodrigo Gorky.
Em bom português, no segundo volume do álbum Batidão tropical, assim como no primeiro lançado em 2021, Pabllo Vittar se mantém em zona confortável, beneficiada pela segurança de estar rebobinando músicas já testadas e aprovadas.
Há um ou outro toque de atualidade nas gravações, mas, em essência, a artista preserva a arquitetura original de músicas como São amores, sucesso da banda cearense Forró do Muído entre 2007 e 2008, quando as vocalistas eram as irmãs Simaria Mendes e Simone Mendes, cantoras que debandaram em 2012 para o universo sertanejo quando formaram a (atualmente já extinta) dupla Simone & Simaria. O refrão sedutor de São amores está intacto no Batidão tropical 2 de Pabllo.
Embora o foco do álbum no lançamento recaia sobre a inédita música autoral Idiota, mix de piseiro com arrocha e bachata, a munição mais certeira do disco vem mesmo do repertório antigo.
Ao longo das 11 faixas disponibilizadas (três permanecem inéditas por ora, substituídas por áudios da artista), Pabllo Vittar transita entre o norte e o nordeste do Brasil, mesclando batidas de tecnobrega e tecnomelody – matéria-prima de Ai ai ai mega príncipe (Alde César e Dj Deyvid, 2009), sucesso da paraense Banda Batidão – com levadas de forró.
Faixa gravada com o DJ e cantor paraense Will Love, Rubi cruza a ponte norte-nordeste ao fundir o tecnobrega com toque do reggae amplificado nas ruas e festas do Maranhão. Composição de Vanda Ravelli, Rubi (2009) é o maior sucesso da banda paraense Ravelly.
A fusão também ecoa em Não vou te deixar, versão em português de I don’t want to get hurt (Per Hakan Gessle, 1995), música do duo sueco Roxette. A versão foi gravada originalmente por Gaby Amarantos quando a cantora paraense era a vocalista da banda TecnoShow. No Batidão tropical 2, Gaby se junta com Pabllo para revitalizar música cuja letra expõe a sofrência recorrente nas letras.
A sofrência se repete em Falta coragem (Flavio dos Teclados e Flávio Pizada Quente, 2018), música do repertório de Taty Girl, cantora cearense projetada no segmento do forró. Tanto que em Falta coragem, música rebobinada por Pabllo com Taty, a balança pende para o universo do forró.
Nas ondas do rádio (Kim Marques, 2002) – música da banda paraense Companhia do Calypso – flui bem em ritmo ágil, soando mais envolvente do que Pra te esquecer (Irlone Ramos dos Santos, 2003), sucesso da Banda Calypso que abre o álbum Batidão tropical 2.
No fecho do disco (a real última faixa, a 14, permanece inédita), Não desligue o telefone (2009) – regravação de música da banda baiana de tecnobrega Djavú, rebobinada por Pabllo com Maderito, integrante da banda paraense de tecnomelody Gang do Eletro – se distancia mais da matriz original, com potência, mostrando que o time da Brabo Music pode ousar mais nos próximos volumes do Batidão tropical, tirando Pabllo Vittar da zona de conforto de projeto que se escora no poder de sedução de repertório alheio.