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Moreno Veloso faz um país ao recriar ‘Mundo paralelo’ em show no Rio com sambas, bossas, prato, faca e ‘Fullgás’

Moreno Veloso toca violão em número do show ‘Mundo paralelo’, apresentado no teatro da Casa de Cultura Laura Alvim, no Rio de Janeiro
Ana Beatriz Magalhães / Divulgação
Resenha de show
Projeto: Música na Laura – G20 Rio Sessions
Título: Mundo paralelo
Artista: Moreno Veloso
Local: Casa de Cultura Laura Alvim (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 6 de junho de 2024
Cotação: ★ ★ ★ 1/2
♪ O mundo de Moreno Veloso é ele mesmo quem fez. Música, eventualmente letra, e a dança do samba de roda da Bahia levado no prato e na faca. Cantor, compositor, violonista e percussionista de origem baiana e vivência carioca, Moreno Veloso é um dos arquitetos de uma das sonoridades fundamentais da música brasileira do século XXI.
Ao lado de músicos como o baixista Alberto Continentino, o baterista Domenico Lancellotti e o guitarrista Pedro Sá, Moreno ajudou a criar as bases de um som que influenciou a discografia de cantoras como Adriana Calcanhotto e Roberta Sá, entre (muitos) outros nomes.
Não foi por acaso que Alberto Continentino, Domenico Lancellotti e Pedro Sá dividiram o palco do teatro da Casa de Cultura Laura Alvim com Moreno Veloso na estreia do show de lançamento do álbum Mundo paralelo, posto em rotação nos aplicativos de áudio em 9 de maio.
A esse quarteto fantástico, símbolo de geração musical nascida em 1972 e já na faixa dos 50 anos (com exceção de Continentino, nascido em 1978), juntou-se no palco o percussionista Leonardo Reis.
O show Mundo paralelo foi apresentado dentro da programação do projeto Música na Laura – G20 Rio Sessions, feito com curadoria de Nelson Motta.
O mote do roteiro foi o repertório do álbum Mundo paralelo, primeiro disco de músicas inéditas de Moreno em dez anos. Todas as dez músicas do álbum foram cantadas no show. Mas outros sambas e bossas entraram em cena.
Marco da parceria de Marina Lima e Antonio Cicero, de quem Moreno gravou Deixa estar (1998) no álbum, Fullgás (1984) foi a maior e a melhor surpresa de apresentação feita para plateia povoada por jornalistas e por amigos e familiares do artista. Foi como se Moreno tivesse feito um país ao dar voz a Fullgás com a leveza recorrente no show e na vida boa, celebrada pelo artista várias vezes ao longo da apresentação.
Em cena, revezando-se no canto, no violão e na percussão, Moreno cedeu o microfone para que cada um dos quatro músicos cantasse uma composição, geralmente com a adesão vocal do próprio Moreno no meio do número.
Primeiro a soltar a voz, Alberto Continentino cantou Tic tac (2015), parceria com Moreno lançada pelo baixista no álbum solo Ao som dos planetas (2015). Pedro Sá apresentou Joá (2021), sambossa que compôs com o português Tomás Ferreira da Cunha, também parceiro de Domenico Lancelotti no número do baterista, Os pinguinhos (2011), música do álbum Cine privê (2011), título da discografia solo de Domenico. Já Leonardo Reis deu voz a Bom rapaz (2002), parceria de Reis com Jurandy Costa e Raff Mirarchi lançada por Davi Moraes no álbum Papo macaco (2002).
Ao mesmo tempo em que realçou a irmandade geracional dos músicos, o rodízio dos integrantes da banda ao microfone prejudicou um pouco a fluência de show que soou mais sedutor quando Moreno Veloso foi o intérprete solista, seja de pérolas do cancioneiro autoral do artista com Quito Ribeiro – como Um passo à frente (2005) e Meu novo Ilê (2015) – seja de joias alheias.
Até porque Moreno se confirmou em cena intérprete sagaz, que trouxe músicas como Tô na sua (Davi Moraes e Rick Magia, 2004) e Corpo excitado (Reizinho, 1996) – tema do bloco afro Ilê Aiyê, nome recorrente no coração e na discografia do artista – para o universo particular deste sambista que caiu com desenvoltura no suingue do Recôncavo Baiano ao reviver Não acorde o neném (Moreno Veloso e Domenico Lancellotti, 2014) com prato, faca e voz macia.
E, como a Bahia não sai do pensamento de Moreno Veloso, o fecho do bis foi com Deusa do amor (Adaílton Poesia e Valter Farias, 1992), sucesso do Olodum que Moreno canta há anos com grande poder de sedução como se a música fosse dele. Porque o mundo de Moreno Veloso é ele mesmo quem fez e faz.
Moreno Veloso (sentado) toca prato em show feito com músicos como o baixista Alberto Continentino (à direita) e o guitarrista Pedro Sá (à esquerda)
Ana Beatriz Magalhães / Divulgação