Ivan Lins abre alas, com turnê e álbum sinfônico, para a festa dos 50 anos da parceria com o letrista Vitor Martins
Cantor estreia show em Natal e lança no Brasil disco gravado na Suíça há 15 anos com a orquestra de jazz do saxofonista suíço George Robert. Capa do álbum ‘Abre alas’, de George Robert Jazz Orchestra & Ivan Lins
Divulgação
Resenha de álbum
Título: Abre alas
Artista: George Robert Jazz Orchestra & Ivan Lins
Edição: Mills Records
Cotação: ★ ★ ★ 1/2
♪ Em 1974, ao firmar parceria com o letrista paulista Vitor Martins, o carioca Ivan Lins adensou, solidificou e politizou obra autoral que lhe dera projeção nacional em 1970 com o estouro da gravação do samba-soul Madalena – standard da parceria de Ivan com o primeiro parceiro, Ronaldo Monteiro de Souza – pela cantora Elis Regina (1945 – 1982).
Com os versos de Vitor Martins, o cancioneiro de Ivan Lins se agigantou nas trincheiras em que a MPB lutava contra a repressão dos anos 1970. Tanto que a parceria se tornou o suprassumo da obra do cantor, compositor e pianista.
Ciente dessa importância, Ivan celebra os 50 anos da parceria com Vitor Martins em turnê pelo Brasil que estreia hoje, 25 de abril, com apresentação no Teatro Riachuelo em Natal (RN).
Embora tenha sido gerado sem o objetivo de celebrar o cinquentenário da parceria, até porque foi gravado em maio de 2009 na Suíça, o álbum Abre alas pega carona nas comemorações dos 50 anos ao ser editado no Brasil amanhã, 26 de abril, via Mills Records.
Lançado originalmente há 15 anos pelo selo suíço GPR Recordings, Abre alas (2009) é disco criado na linha do álbum anterior de Ivan, My heart speaks (2023), exuberante registro fonográfico feito para o mercado dos Estados Unidos, dentro do universo do jazz, com a moldura sinfônica de orquestra de Tbilisi, capital do estado da Geórgia (EUA), e com requintados arranjos orquestrais de Kuno Schmid.
Gravado em estúdio, o álbum Abre alas soa menos fascinante no conjunto da obra, mas nem por isso deixa de fluir bem ao reapresentar sete músicas de Ivan com a moldura sinfônica da George Robert Jazz Orchestra – big band liderada pelo saxofonista suíço George Robert – com arranjos de Bob Mintzer, maestro e saxofonista norte-americano ligado ao grupo de jazz fusion Yellowjackets.
Na gravação, Ivan canta em português e toca piano. Basta ouvir a faixa-título Abre alas (Ivan Lins e Vitor Martins, 1974) para perceber que o tempero jazzístico de George Robert e Bob Mintzer é incapaz de afastar os seguidores brasileiros de Ivan. As canções estão plenamente reconhecíveis com as arquiteturas melódicas intactas.
Entre clássicos como o já mencionado samba Madalena (1970) e a balada feminista Começar de novo (Ivan Lins e Vitor Martins, 1979) e entre músicas menos famosas do repertório de Ivan, casos da balada Saudades de casa (Ivan Lins e Vitor Martins, 1995) e de Boa nova (Ivan Lins, Celso Viáfora e Beto Betuk, 2007), faixa de introdução donatiana, o álbum Abre alas apresenta dois temas instrumentais de autoria de George Robert, Canción de amor e Mi corazón, ambos de acento latino e romântico.
Contudo, o destaque do repertório do disco Abre alas é mesmo o cancioneiro de Ivan Lins e, dentro do recorte da obra do artista brasileiro, vale ressaltar a habilidade da George Robert Jazz Orchestra para manter a leveza da bossa Passarela no ar (Ivan Lins e Abel Silva, 2006), joia do álbum Acariocando (2006) que explicita a devoção de Ivan Lins ao cancioneiro soberano de Antonio Carlos Jobim (1927 – 1994), reverência que ajuda a explicar o prestígio mundial de Ivan no circuito internacional do jazz.
Velas içadas (Ivan Lins e Vitor Martins, 1979) também navega em águas calmas, preparando o horizonte para o arremate do álbum com a abordagem (majestosa, mas deslocada) de Over the rainbow (Harold Arlen e Edgar Yipsel, 1939) em cores sinfônicas e jazzísticas.
Enfim, com o disco Abre alas, Ivan Lins pede passagem para a turnê comemorativa dos 50 anos da parceria com Vitor Martins. Abram alas para a folia do artista porque já está chegando a hora de Ivan Lins fazer a festa no palco!