Festivais e cancelamentos: como são os contratos e por que artistas gringos desmarcam tanto?
Paramore cancelou participação no line-up principal e foi substituído por Kings of Leon. Artistas não costumam pagar multa, só perdem cachê, tanto no Brasil quanto nos EUA. Arcade Fire, Blink-182 e SZA são destaques do Lollapalooza 2024
Celso Tavares/G1 – Divulgação – Demitrios Kambouris/Getty Images North America/Getty Images via AFP
O Lollapalooza 2024 foi marcado pelo cancelamento de uma de suas atrações principais. Saiu Paramore, entrou Kings of Leon. Os donos do hit “Sex on Fire” se apresentam neste sábado (23), no lugar da banda de Hayley Williams.
Outros três artistas também desmarcaram suas participações. Ficarão de fora do line-up Rina Sawayama, Dove Cameron e Jaden Smith, que fez como a irmã Willow na edição de 2023 ao também cancelar a participação.
No ano passado, o Blink-182 precisou desmarcar a apresentação, um mês antes do evento, por conta de uma fratura no dedo do baterista. A banda, no entanto, não deixou os fãs ‘devastados’ e fará seu primeiro show no Brasil nesta sexta (22), no Autódromo de Interlagos.
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O g1 ouviu profissionais do mercado de shows para saber sobre cancelamentos de apresentações em grandes festivais: como são os contratos e por que estas desmarcações de gringos são comuns?
Entenda a partir dos pontos abaixo:
Como se negocia o cachê?
O que acontece quando o artista cancela?
O problema é só no Brasil?
Como se negocia o cachê?
Todos os cachês com atrações estrangeiras são negociados em dólar. Os valores são calculados, geralmente, de duas formas possíveis:
Cachê ‘colocado’ – Um preço único, combinado entre o artista e o festival. O artista recebe o valor e, com ele, é responsável por todos os custos do show, incluindo o transporte aéreo da equipe e a estrutura da apresentação.
Cachê artístico – É um valor pago ao artista só para ele se apresentar. Neste caso, o festival tem que pagar por todos os custos extras, como transporte da equipe e estrutura.
Nos grandes festivais de música na América Latina, o mais comum é o cachê colocado. O festival, na maioria das vezes, concede apenas de duas a três noites de hotel e transporte local (entre aeroporto, hotel e o lugar do evento).
Os artistas tentam marcar o máximo possível de datas nos países vizinhos ou em outras cidades do Brasil. Em vez de fazer apenas um show com deslocamento intercontinental, mais caro, ele faz várias viagens menores, ganhando cachê fixo em cada uma. Isso dilui o gasto total e viabiliza a turnê.
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O que acontece quando o artista cancela?
Os acordos costumam prever multas extras de 100% do valor do contrato em caso de cancelamento. Mas, na prática, isso não costuma acontecer. Os artistas gringos que cancelam precisam apenas devolver o cachê que já tenha sido pago.
Isso acontece porque os contratos têm cláusulas, conhecidas no mercado como “motivos de força maior”, que cancelam a multa nos seguintes casos:
Doença do artista, devidamente comprovada.
Mudanças meteorológicas, calamidades públicas ou outra hipótese alheia à vontade do contratado que torne impossível a apresentação.
Na prática, a “hipótese alheia à vontade que torna impossível a apresentação” pode ser quase qualquer coisa. “Não tem nada de multa. Devolve a grana e pronto. E sempre tem um motivo, por mais que não abra isso nas redes. Sempre tem que alegar algo”, diz o agente de um grande festival no Brasil.
“Existem algumas pegadinhas em ‘motivos de força maior’ que o pessoal usa para se encaixar”, diz um artista brasileiro que toca em grandes festivais aqui e no exterior.
Caso o artista já tenha investido uma parte de sua verba na realização do show, esse valor pode ser abatido da verba a ser devolvida.
Exemplo: um artista cancela de última hora, mas o mega telão dele veio antes e foi instalado no palco. Pode estar previsto em contrato que o valor depositado seja: o que já recebeu menos o que gastou com o tal telão.
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O problema é só no Brasil?
A questão não é discutida só aqui. Em 2020, a Live Nation, uma das maiores produtoras de eventos do mundo, tentou endurecer as regras globais, e impor aos artistas uma multa de duas vezes o valor do contrato em caso de cancelamento.
A revista “Billboard” fez uma reportagem sobre essa tentativa de mudança. Nela, um produtor de festivais dos EUA disse que, atualmente, os artistas não sofrem consequências práticas ao cancelar um show num festival, mesmo que esta ausência de última hora afete a marca do evento.
“Mas se eu tenho que cancelar meu festival, por qualquer motivo, tenho que pagar tudo aos artistas, mesmo que eles não me ajudem a vender um único ingresso, e isso não é justo”, disse o produtor.
Mesmo assim, a proposta da Live Nation, que tinha outras cláusulas mais duras para os artistas, no meio da crise da pandemia, pegou mal. Uma semana depois, o site especializado Complete Music Update noticiou que a Live Nation tinha desistido de impor essas novas regras.
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