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Falante, Oswaldo Montenegro percorre trilhas e imagens de 50 anos de estrada em show feito com os pés no chão

‘Menestrel’ carioca estreia no Rio de Janeiro, no dia do 68º aniversário, turnê retrospectiva em que alinha sucessos amealhados em cinco décadas de carreira. Oswaldo Montenegro estreia na casa Vivo Rio na noite de sexta-feira, 15 de março, o show da turnê ‘50 anos de estrada’
Ricardo Nunes / Divulgação Vivo Rio
Resenha de show
Título: 50 anos de estrada
Artista: Oswaldo Montenegro
Local: Vivo Rio (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 15 de março de 2024
Cotação: ★ ★ ★ 1/2
♪ “Estou há 50 anos na cena e nunca disse ‘sai do chão’. Meu negócio é música barroca”, se situou, bem-humorado, Oswaldo Montenegro na estreia do show 50 anos de estrada na casa Vivo Rio, na cidade do Rio de Janeiro (RJ), na noite de sexta-feira, 15 de março.
A apresentação coincidiu com o dia do 68º aniversário deste cantor, compositor e músico carioca que veio ao mundo em 15 de março de 1956. Mas ninguém cantou Parabéns pra você no palco e tampouco na plateia.
A comemoração era dos 50 anos de carreira do artista, data arredondada, pois Montenegro já entrou em cena desde o alvorecer da década de 1970, tentando a sorte em festivais de Brasília (DF) e do Rio de Janeiro (RJ), inclusive no último Festival Internacional da Canção (FIC), transmitido pela TV Globo em 1972.
Contudo, foi de fato em 1974 que o artista multimídia escreveu com o amigo de infância e parceiro Arlindo Carlos da Silva Paixão (1957 – 2021), o Mongol, o primeiro musical de teatro, João sem nome, encenado em 1975 em Brasília (DF).
A Capital Federal foi a cidade que moldou a personalidade musical de Oswaldo Montenegro juntamente com São João Del Rey (MG) – município mineiro onde o artista viveu parte da infância, ouvindo serestas profanas e a sagrada música barroca das igrejas das Geraes – e com a cidade natal do Rio de Janeiro (RJ).
Oswaldo Montenegro segue no show ‘50 anos de estrada’ roteiro retrospectivo que inclui as músicas ‘Agonia’ ‘Bandolins’ e ‘Intuição ’
Ricardo Nunes / Divulgação Vivo Rio
Todas as influências afloraram e convergiram nas trilhas e imagens percorridas por Oswaldo Montenegro no roteiro do show 50 anos de estrada. Cada música foi ilustrada com imagem específica exposta no telão posicionado ao alto, no centro do palco da casa Vivo Rio.
Falante, o cantor contou histórias sobre as canções e sobre os amigos presentes na plateia, perdendo às vezes o fio da meada e, por isso mesmo, soando espirituoso na narrativa afetuosa.
Aberto com a récita do poema Metade (1977), apresentado no primeiro álbum do artista, Trilhas (1977), o show seguiu com desenvoltura, com o cantor repisando trilho autoral que abarcou canções como Intuição (Oswaldo Montenegro e Ulysses Machado, 1980) e Coração de todo mundo (Oswaldo Montenegro e Raimundo Costa, 1990) – balada típica da obra desse Menestrel que ecoa no cancioneiro o canto dos trovadores medievais – e Se puder, sem medo (1979).
Se O condor (1985) voou mais baixo, sem o efeito inebriante do coral gospel da apresentação do Festival dos festivais (TV Globo, 1985), a valsa Bandolins (1979) encerrou o show no posto de música mais inspirada do cancioneiro do artista.
Bandolins ficou em terceiro lugar em festival promovido em 1979 pela então agonizante TV Tupi. No ano seguinte, Agonia (1980) – obra-prima de Mongol – venceu o festival MPB-80, da TV Globo, e abriu mais caminho para Montenegro, a ponto de o cantor tornado subitamente popstar ter se incomodado com a fama avassaladora e ter saído dos holofotes midiáticos após o álbum Asa de luz (1981) para se abrigar nos palcos, aproveitando o sucesso para impulsionar a encenação de musicais de teatro como A dança dos signos (1983) e Aldeia dos ventos (1987).
No show, Agonia comoveu o público tanto pela beleza melancólica da canção quanto pela história que cercou a criação da música, composta por Mongol para Montenegro como desagravo pela mágoa causada por palavras duras dirigidas por Mongol ao parceiro.
Oswaldo Montenegro entrelaça os números musicais com histórias sobre as canções e os parceiros dos 50 anos de estrada
Ricardo Nunes / Divulgação Vivo Rio
Iniciado com o cantor a sós na imensidão do palco, o show foi ganhando adesões de músicos como Sérgio Chiavazzoli – ás da guitarra e do bandolim – e o saxofonista Milton Guedes, sem falar na flautista Madalena Salles, fundamental na trajetória artística e pessoal de Oswaldo Montenegro.
Madalena entrou em cena na canção Pra longe do Paranoá (1980) e ficou até o fim, marcando especial presença quando caminhou pela plateia tocando a flauta que soprou a melancolia da canção Lua e flor (1984).
Destaque do cancioneiro de Montenegro, a poética Lua e flor foi apresentada pela atriz e cantora Marília Pêra (1943 – 2015) no EP com a trilha sonora do espetáculo Brincando em cima daquilo (1984) e, cinco anos depois, amplificada na trilha sonora da novela O salvador da pátria (TV Globo, 1989) em gravação que, feita pelo autor em 1988, injetou novo ânimo na carreira de Oswaldo Montenegro pela força da TV.
Sem evitar as músicas mais conhecidas como Sem mandamentos (1975) e Léo e Bia (1979), o trovador também mostrou belezas mais recentes como a melodiosa canção Solidões (2013), tema do filme homônimo dirigido por Montenegro e apresentado há 11 anos.
As falas longas e por vezes desconexas do cantor fizeram graça, mas prejudicaram a fluência de roteiro em que o artista transitou por parcerias com Mongol, iluminando Lume de estrelas (1981), percorrendo Estrada nova (2002) e reabrindo A porta da alegria (2015).
À vontade na velha estrada, com a voz ainda em forma, Oswaldo Montenegro criou show para seguidores que, ignorando os ataques gratuitos dirigidos ao artista por parte da crítica musical das décadas de 1980 e 1990, permanecem há anos fiéis a esse trovador barroco que trilha caminho vitorioso há cinco décadas, com os pés no chão.
Oswaldo Montenegro em cena no show ‘50 anos de estrada’ na casa Vivo Rio
Ricardo Nunes / Divulgação Vivo Rio