Chico César, Lenine, Moska e Zeca Baleiro são uniformizados no álbum duplo ‘A luz que sobra da pessoa’
O cantor Fabiano Bianco e o pianista Zé Lourenço abordam com certa linearidade 18 músicas dos quatro compositores projetados na década de 1990. Chico César (no alto, à esquerda), Lenine, Paulinho Moska e Zeca Baleiro (embaixo, à direita) têm músicas reunidas em disco de Fabiano Bianco e Zé Lourenço
Divulgação / Montagem g1
Capa do álbuns ‘A luz que sobra da pessoa 1 e 2 – Chico César, Lenine, Moska e Zeca Baleiro’, de Fabiano Bianco e Zé Lourenço
Divulgação / Montagem g1
Resenha de álbum duplo
Títulos: A luz que sobra da pessoa 1 e 2 – Chico César, Lenine, Moska e Zeca Baleiro
Artistas: Fabiano Bianco e Zé Lourenço
Edição: Edição independente do artista
Cotação: ★ ★ ★
♪ Embora tenham entrado discretamente em cena nos anos 1980, Chico César, Lenine, Paulinho Moska e Zeca Baleiro ganharam projeção individual somente na década de 1990. Eles formam o naipe de cantores e compositores mais identificados com aquela década em que a música brasileira começou a mostrar nova cara após anos soterrada pela avalanche do rock nacional.
Não era mais a MPB hegemônica dos anos 1970, mas uma música ainda brasileira, miscigenada, com doses maiores ou menores de apelo pop. Era a música brasileira dos anos 1990 que, passadas três décadas, permaneceu com as caras de Chico, Lenine, Moska e Baleiro – artistas que se mantiveram produtivos no século XXI.
Daí a (boa) ideia do cantor Fabiano Bianco e do pianista Zé Lourenço de entrelaçar músicas dos quatro compositores nos álbuns A luz que sobra da pessoa 1 e 2 – Chico César, Lenine, Moska e Zeca Baleiro. Em rotação a partir de amanhã, 2 de fevereiro, o disco duplo segue o molde do álbum Gil, Chico & Caetano Um e Dois (2019), lançado há quatro anos pelo intérprete e o pianista.
No caso do álbum A luz que sobra da pessoa, cujo título reproduz verso da canção que abre o disco 1, Saudade (Chico César e Paulinho Moska, 2009), a ideia é melhor do que o disco em si. Cantor afinado e de timbre vigoroso, Fabiano Bianco uniformiza as obras dos quatro compositores.
Como são dois discos, o resultado soa por vezes bem linear. Até porque falta sutileza às interpretações de O silêncio das estrelas (Lenine e Dudu Falcão, 1993), Onde estará o meu amor (Chico César, 1996), A seta e o alvo (Paulinho Moska e Nilo Romero, 1997) e Banguela (Zeca Baleiro, 2000) – canções que exigem um tempo de delicadeza que o pianista tangencia mais do que o cantor na abordagem de Templo (Chico César, Milton de Biase e Tata Fernandes, 1995).
Ao fim do disco 1, a entrada da voz de Manu Santos em Bandeira (Zeca Baleiro, 1997) atenua momentaneamente a linearidade do tributo pela harmonia do dueto vocal com Fabiano Bianco. Manu, a propósito, permanece na primeira faixa do álbum 2, Cama da ilusão (Zé Renato e Moska, 2011), balada tratada no tributo como peça de câmara, mais até do que Soneto do teu corpo (Leoni e Moska, 2005).
A favor do disco, há o registro mais melodioso de Boi de Haxixe (Zeca Baleiro, 1999) – música gravada por Baleiro com a pulsação rítmica do Bumba-Meu-Boi de Axixá – que permite o realce do romantismo da letra.
Contra, há o fato de que o cancioneiro de Lenine nem sempre soa moldado para o formato de voz-e-piano. Tal descompasso fica evidente nas pálidas gravações de Ciranda praieira (Lenine e Paulo César Pinheiro, 2008) e Rosebud (O verbo e a verba) (Lenine e Lula Queiroga, 2001).
De toda maneira, a seleção de repertório – feita fora do trilho da obviedade, como exemplifica a lembrança de Maldição (Zeca Baleiro, 1999) – valoriza o disco em que Fabiano Bianco e Zé Lourenço alinham 18 músicas dos artistas em 16 faixas, mas não a ponto de apagar a impressão de que intérprete e músico jogaram Chico César, Lenine, Paulinho Moska e Zeca Baleiro na mesma fôrma.