Caio Prado cai no suingue pop popular do terceiro álbum para ser um artista recomendado pelos donos do mercado
Caio Prado lança o terceiro álbum, ‘Caio em ti’, na sexta-feira, 15 de março, com produção musical de Umberto Tavares e do time da Mousik
Washington Possato / Divulgação
Capa de ‘Caio em ti’, terceiro álbum do cantor e compositor carioca Caio Prado
Washington Possato com arte criada por Pedro Hansen sob direção artística de Pedro Loureiro
Resenha de álbum
Título: Caio em ti
Artista: Caio Prado
Edição: Deck
Cotação: ★ ★ 1/2
♪ Vai se frustrar quem ouvir o terceiro álbum de Caio Prado, Caio em ti, com a intenção de reencontrar o artista incendiário do single antirracista Não sou teu negro (2020) e de outros lançamentos de tom politizado. Sem deixar de marcar posição, como visto na foto da capa que alude à imagem clássica de São Sebastião, o cantor e compositor carioca abrandou o fogo político para cair em suingue mais pop e popular neste terceiro álbum.
Produto da conexão de Prado com o compositor e produtor musical Umberto Tavares, que deu forma ao disco com a colaboração do time da Mousik (Jefferson Júnior, Stefan Baby e Toninho Aguiar), o disco Caio em ti gravita em torno de esferas mais genéricas de gêneros musicais como pagode e funk.
“Trazer essa produção musical pro meu disco explodiu a bolha que eu caminhava e me trouxe de volta para uma essência perdida lá de Realengo (bairro carioca onde Caio Prado nasceu e cresceu), onde sou cria do funk e pagode. Caio em ti é um disco pra ser compreendido por todes, sem rebuscar conceitos e me dando de peito aberto ao popular”, argumenta o artista, projetado no trio queer Não Recomendados, no texto de apresentação do álbum que será lançado na sexta-feira, 15 de março, pela gravadora Deck.
Conceituado no texto como “mais solar”, o álbum Caio em ti escancara a alardeada carioquice do disco na letra de Estranho, cujos versos “Estranho é ser feliz com pouco, né?! / Churrasco na Favela da Maré / Valor que não se conta em reais / Que sobram no Leblon, mas falta paz” oferecem visão feliz da vida nas comunidades.
Faixa caracterizada por Umberto Tavares como “MPB funk”, Estranho é uma das músicas assinadas por Caio Prado com Tavares e Jefferson Junior. Outras, como Caio em ti e Camisa 10, poderiam figurar no repertório de qualquer disco de pagode de Ludmilla, por exemplo. Até porque, no todo, o álbum Caio em ti é resultado da tentativa de os produtores de enquadrarem Prado na moldura pop do mercado.
Balada adornada com cordas, Armas do amor (Thiago Silva, Umberto Tavares, Jefferson Junior e Caio Prado) abre o disco e o caminho para a nova fase do artista, pedindo passagem para o som mais pop e feliz de Caio Prado. Na sequência, Tudo de bom – parceria de Prado com Doralyce, convidada da gravação – reitera a opção por um disco alto astral, “solar”, como enfatizado no texto enviado pela gravadora à mídia.
Nessa temperatura amena, Flores – parceria de Caio Prado com Luthuly – desabrocha na cadência do ijexá, introduzida por som de berimbau, enquanto Sem demandas (Caio Prado e Marcelo Delamare) vem na levada pop do R&B. O groove de Delírios tropicais (Caio Prado) mostra um artista com molejo para cair no suingue pop tropical.
Antecedido pelos singles que apresentou as músicas Vai rezando (Caio Prado, Luthuly, Marcelo Delamare e Theo Zagrae, 2023) e Epahey Oyá (Caio Prado e Jean Kuperman, 2023), além da faixa-título, o álbum Caio em ti chega ao mundo com a missão de tirar Caio Prado do nicho que consumiu os dois (bons) discos anteriores do artista, Variável eloquente (2014) e Incendeia (2018).
Sim, o talentoso Caio Prado agora quer ser um artista recomendado pelos donatários do mercado – e tem todo o direito de fazer esse movimento rumo ao pop popular mais desencanado.