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Álbum que alicerçou Simone em 1979, ‘Pedaços’ retorna ao catálogo em LP

♪ MEMÓRIA – A aparição de Simone na música brasileira, em 1973, não causou impacto e tampouco alçou a cantora baiana ao estrelato imediato, como acontecera em 1965 com Maria Bethânia e como aconteceria em 1987 com Marisa Monte e em 1999 com Ana Carolina, para citar três exemplos de cantoras que irromperam como furacões no universo musical do Brasil.
Ao contrário. A ascensão de Simone foi paulatina ao longo da década de 1970 e culminou com a explosão definitiva da Cigarra a partir de 1979, ano de Pedaços, álbum que consolidou a trajetória de Simone no rastro do sucesso de discos anteriores como Face a face (1977) e Cigarra (1978).
Álbum lapidar que expôs a cantora com dose maior de sensualidade, como sinalizado pela imagem da capa em que Simone aparece nua na foto clicada por Fernando Carvalho, Pedaços está sendo reeditado em LP, 45 anos após o lançamento do disco, com vinil fabricado na cor creme. A edição é da Universal Music, gravadora detentora do acervo da EMI-Odeon.
O maior sucesso do repertório irretocável foi Começar de novo, canção feminista de Ivan Lins e Vitor Martins, composta para ser tema de abertura da série Malu mulher, estreada pela TV Globo naquele ano de 1970.
Além de ter projetado a voz de Simone em escala nacional, com intensidade até então inédita na carreira da cantora, a gravação de Começar de novo alinhou a Cigarra com a revolução feminina então em voga na MPB em 1979, ano marcado pelo surgimento de várias cantoras que compunham e davam voz às próprias músicas.
Uma delas foi Fátima Guedes, de quem Simone gravou Condenados, canção de versos sensuais como “Ah, meu amor, estamos mais safados / Hoje tiramos mais proveito do prazer”.
Sob medida, bolero composto por Chico Buarque para a trilha sonora do filme República dos assassinos (1979), também ganhou a voz de Simone no disco, mas ficou eternamente associado ao canto de Fafá de Belém, que gravou Sob medida no mesmo ano para o álbum Estrela radiante (1979), sendo que a duplicidade simultânea de registros fonográficos da música gerou mal-estar no mundo do disco.
A Simone, ficaram associados para sempre o samba Tô voltando (Maurício Tapajós e Paulo César Pinheiro) – um dos hinos da anistia aos exilados políticos ao lado de O bêbado e a equilibrista (João Bosco e Aldir Blanc), samba lançado por Elis Regina (1945 – 1982) – e Cordilheira, outro petardo político, este da lavra de Sueli Costa (1943 – 2023) com o mesmo Paulo César Pinheiro que escreveu os versos do samba Tô voltando.
Sueli Costa é também a melodista da bela canção Vento nordeste, feita em parceria com o poeta letrista Abel Silva e conhecida somente pelos seguidores de Simone e de Zélia Duncan, que cantou Vento nordeste em show com Simone estreado em 2006 e eternizado em disco em 2008.
Artista àquela altura já ligado à trajetória de Simone, Milton Nascimento assina duas músicas no álbum Pedaços, Itamarandiba e Povo da raça Brasil, ambas com o parceiro Fernando Brant (1946 – 2015) e ambas com letras de caráter político.
Completam o repertório do álbum Pedaços as músicas Pedaço de mim (Chico Buarque, 1978), Saindo de mim (Ivan Lins e Vitor Martins) – outra canção de separação na linha de Começar de novo – e Outra vez (Isolda, 1977), sucesso retumbante há dois anos na voz de Roberto Carlos e nunca a rigor ligado à voz de Simone.
Álbum mais coeso de Simone na passagem luminosa da cantora pela gravadora Odeon entre 1973 e 1980, Pedaços resistiu muito bem ao tempo. Músicas, arranjos e interpretações jamais perderam o viço ou a relevância, o que legitima a reedição do álbum Pedaços em LP na era do culto tátil ao vinil.
Imagem promocional da reedição em LP do álbum ‘Pedaços’ (1979), de Simone
Divulgação

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LG MANHÃ
Produção Eduardo Dj