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Alaíde Costa entra no mundo melancólico de Guilherme Arantes sem se render ao pop

Single une a cantora e o compositor em registro de vozes e piano da balada triste que marcou em 1976 o início da carreira solo do artista. Alaíde Costa e Guilherme Arantes lançam o single ‘Meu mundo e nada mais’, produzido por Marcus Preto
Ilustração de Camilo Solano
Resenha de single
Título: Meu mundo e nada mais
Artistas: Alaíde Costa e Guilherme Arantes
Composição: Guilherme Arantes
Edição: Samba Rock Discos / Altafonte
Cotação: ★ ★ ★ ★
♪ A gravação de Meu mundo e nada mais feita por Alaíde Costa com Guilherme Arantes – autor dessa bela balada triste composta em 1969 e lançada em 1976 como marco zero da carreira solo de Arantes – é o tipo de single que, embora não tenha razão de ser, existe, é bonito e dever ser louvado por existir.
Single avulso, dissociado de álbum, Meu mundo e nada mais chega ao universo digital amanhã, 19 de fevereiro, com capa que expõe os artistas em ilustração de Camilo Solano e com registro afetuoso que une grande cantora com compositor da mesma dimensão.
Arantes canta sozinho somente uma estrofe da canção e, no fim, une a voz à de Alaíde em dueto terno. Do ponto de vista vocal, o single Meu mundo e nada mais é quase um solo de Alaíde Costa. No todo, trata-se de legítimo dueto porque o piano de Arantes é o único instrumento do fonograma produzido por Marcus Preto em 6 de dezembro de 2023.
Aproveitando vinda de Arantes ao Brasil (o artista paulistano reside na Espanha desde o fim de 2019), Preto juntou Alaíde e Arantes no estúdio Arsis, na cidade de São Paulo (SP), e pediu a Adonias Junior para captar o encontro de um piano – de toque inspirado tanto pelos compositores eruditos como pelo rock progressivo e pelo pianista e compositor irlandês Gilbert O’Sullivan – com uma voz suave e vocacionada para amplificar melancolias existenciais.
Sob prisma poético, a letra de Meu mundo e nada mais – canção caracterizada por Arantes como “um manifesto da minha revolução pessoal” – se afina com o canto de Alaíde por retratar jovem triste, ferido, mudando a percepção colorida da vida à medida que vê o mundo mudar e as “verdades” pulverizadas d transformadas em restos de certezas.
Como a letra omite a idade do eu-lírico da canção, Meu mundo e nada mais soa na voz maturada de Alaíde Costa – cantora de 88 anos – como a reflexão de alguém que, na fase outonal, se desencanta com o mundo em eterna mutação.
Resultado de apenas três takes de estúdio, o single Meu mundo e nada mais também simboliza a retomada da conexão de Alaíde Costa com Guilherme Arantes dois anos após a cantora ter lançado álbum, O que meus calos dizem sobre mim (2021), com música inédita do compositor, Berceuse, acalanto feito por Arantes com inspiração em tema francês do compositor Gabriel Fauré (1845 – 1924) com versos do poeta Paul Verlaine (1844 – 1896).
O mundo de Guilherme Arantes é tão grandioso que, nele, cabe uma cantora da imensidão de Alaíde Costa. Só que Alaíde Costa entra no mundo melancólico de Guilherme Arantes sem se render ao pop.
Capa do single ‘Meu mundo e nada mais’, de Alaíde Costa e Guilherme Arantes
Ilustração de Camilo Solano